Introdução ao tema
Os profissionais de saúde que lidam diariamente com doenças crónicas, progressivas, irreversíveis, prolongadas e/ou terminais estão constantemente expostos à dor e ao sofrimento dos seus pacientes. Esta exposição repetida à morte e ao sofrimento, bem como o seu inevitável envolvimento emocional, pode dificultar a sua capacidade de separar o trabalho da vida pessoal e aumentar a probabilidade de experienciarem um sofrimento (luto) cumulativo e/ou até uma fadiga de compaixão. Além disso, a intensa carga de trabalho, decorrente das complexas necessidades dos pacientes, em situação de fim de vida, aliada à complexidade das demandas emocionais deste tipo de trabalho, podem levar ao desgaste físico/mental/emocional, contribuindo para o desenvolvimento de quadros de exaustão e burnout. É importante que os profissionais de saúde reconheçam os riscos do seu trabalho e processem os próprios sentimentos de luto para que possam ser sensibilizados a buscar apoio atempado, mais frequente e/ou sempre que necessário.
Pontos Chave
Eis alguns dos fatores de risco a ter em conta, e com os quais os profissionais de saúde devem lidar, e que podem contribuir para o desgaste e/ou declínio da sua saúde física, mental e psicológica:
- Turnos
- Horas de trabalho (longas e exigentes)
- Exposição constante a situações de trauma e sofrimento
- Stresse/Pressão para atender às necessidades dos pacientes e da equipa
- Falta de apoio institucional e recursos adequados
- Dificuldade em conciliar trabalho e vida pessoal
Uma maior consciência destes fatores de risco e a promoção de estratégias de autocuidado são essenciais para que os profissionais de saúde consigam manter seu bem-estar físico, mental e emocional, ao mesmo tempo que lidam com as necessidades/exigências desafiadoras do seu trabalho. Além disso, a relação entre conceitos como o Burnout, Luto Cumulativo, Fadiga de Compaixão e Autocuidado, em profissionais de saúde, é muito complexa e está interligada.
Como profissional de saúde nesta área, é importante estar consciente dos riscos associados a estes conceitos - Burnout, Luto Cumulativo, Fadiga de Compaixão e Autocuidado - e ser capaz de identificar os sintomas associados. Isto permitirá uma maior prevenção e o desenvolvimento de ações com vista à melhoria do bem-estar físico e psicológico dos profissionais de saúde.
O Burnout é um estado de exaustão física, emocional e mental que resulta da exposição prolongada ao stresse crónico no trabalho. Os fatores de risco identificados acima estão, na maioria das vezes, na base da etiologia do cansaço extremo/desgaste e podem ser exacerbados pela falta de recursos adequados, apoio insuficiente e falta de reconhecimento pelo seu trabalho árduo. Se não for tratado, o burnout pode levar a problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, afetando também negativamente as relações com os pacientes/famílias, a qualidade da prestação de cuidados e até mesmo a relação entre colegas de profissão.
O Luto Cumulativo deve-se à acumulação de níveis de stresse emocional, resultante da exposição repetida a situações de perdas, traumas e sofrimento no trabalho. Os profissionais de saúde testemunham frequentemente doenças graves e prolongadas, a morte de pacientes e o sofrimento dos seus familiares. Os sintomas de Luto Cumulativo podem incluir exaustão emocional, apatia, sentimentos de desamparo e desesperança, irritabilidade, dificuldade de concentração, insónia, ansiedade e depressão. O Luto Cumulativo pode afetar a capacidade dos profissionais de saúde em desempenharem as suas funções de forma eficaz, podendo, em alguns casos, até perder a empatia com os pacientes, cometer erros no trabalho e/ou contribuir para o aumento do seu absentismo.
A Fadiga de Compaixão é um fenómeno psicológico que afeta muitos profissionais de saúde devido à natureza desafiante e exigente do seu trabalho. Também conhecida como “esgotamento da empatia” ou “esgotamento da compaixão”, a Fadiga por Compaixão, surge da exposição contínua ao sofrimento dos pacientes e às demandas emocionais associadas ao trabalho deste tipo de cuidados de saúde. Os sintomas da Fadiga de Compaixão são muito semelhantes aos sintomas do Burnout e/ou do Luto Cumulativo, incluindo exaustão emocional, despersonalização, diminuição da realização pessoal, sentimentos de desesperança e falta de motivação. Quando um profissional de saúde está emocionalmente esgotado, pode ter dificuldade em prestar cuidados compassivos e eficazes aos seus pacientes.
Nesta sequência, é importante considerar a adoção de estratégias de coping eficazes, nomeadamente:
- Priorizar o Autocuidado e o descanso adequado
- Estabelecer limites saudáveis entre trabalho e vida pessoal
- Procurar apoio de colegas e/ou supervisores
- Participar em atividades de relaxamento e lazer
- Praticar técnicas de gestão de stresse, por exemplo, ligadas ao desporto, ao mindfulness e/ou meditação
- Procurar ajuda profissional se necessário, como aconselhamento psicológico ou terapia
Resumo
Quadros como o Burnout, o Luto Cumulativo e a Fadiga de Compaixão são frequentes e significativos, afetando muitos profissionais de saúde, tanto no seu contexto de trabalho como a nível pessoal. No entanto, ao reconhecer os primeiros sinais e ao adotar rotinas/estratégias mais adequadas, é possível prevenir e gerir estes desafios de forma mais eficaz.
Estas questões são uma preocupação relevante nos ambientes de saúde e requerem mais atenção, tanto dos profissionais a nível pessoal/individual, como das organizações, para garantir um maior bem-estar institucional e mais eficácia no trabalho. Incentivar e promover estas medidas de Autocuidado, apoio emocional e comunicação sensível são fundamentais para ajudar os profissionais de saúde a lidar com o “luto compassivo” de uma forma mais saudável.
Apesar dos desafios emocionais, este “luto compassivo”, muitas vezes sentido pelos Profissionais de Saúde, também pode oferecer a oportunidade de um maior crescimento pessoal e profissional. Os profissionais de saúde podem aprender lições valiosas sobre empatia, compaixão, resiliência e o verdadeiro significado do “Cuidar”, ao longo deste processo com os seus pacientes.
Ao priorizar o Autocuidado, os profissionais de saúde podem não apenas melhorar o seu próprio bem-estar, mas também reforçar a sua capacidade de cuidar eficazmente dos outros.
Lembre-se de que cuidar de si mesmo não é egoísmo, mas sim a parte mais importante para poder prestar um atendimento mais compassivo e de melhor qualidade aos seus pacientes.